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Muito além da responsabilidade social : o discurso social das empresas no Brasil

Por: Alves, Mario AquinoColaborador(es): Centro Latinoamericano de Administración para el Desarrollo (CLAD) | Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, 7 LisboaDetalles de publicación: Sao Paulo Fundaçao Getulio Vargas. Escola de Administraçao de Empresas de Sao Paulo 2002Descripción: 19 pTema(s): CONGRESOCLAD 7-2002 | CONTEXTO SOCIAL | ECONOMIA SOCIAL | EMPRESAS | PUBLICO NO ESTATAL | RESPONSABILIDAD | BRASILOtra clasificación: INAP-AR:CD 45 Congreso VII Resumen: Desde o início dos anos 90 vimos assistindo a um verdadeiro boom de ações ligadas ao que se convencionou chamar de "responsabilidade social da empresa" ou "filantropia empresarial". Muitos argumentam que se trata de um conjunto de estratégias de marketing para melhorar a imagem das empresas junto à sociedade. Embora haja de fato um componente mercadológico importante nessa ação, há uma questão maior e de efeitos mais fortes sobre a sociedade como um todo. Trata-se de um movimento que procura garantir às empresas, por meio de seus agentes designados, maior poder para influenciar a formulação de políticas públicas ou na definição das agendas políticas da sociedade.Analisando o perfil da filantropia empresarial norte-americana, Jerome Himmelstein demonstrou que empresas que financiam determinadas causas buscam, mais do que um retorno de imagem, influenciar os debates sobre determinados. Isso explica porque algumas empresas, nos Estados Unidos, financiam campanhas e organizações ligadas a temas polêmicos (tais como o aborto e a legalização do uso da maconha). Himmelstein argumenta que a questão do poder -no caso da filantropia empresarial- não implica uma relação de submissão aberta de um grupo sobre outro, mas, ao invés disso, ela envolve um tipo de poder mais sutil e, talvez, numa escala menor que qualquer outro: uma presença nos múltiplos níveis da sociedade e um lugar nas diversas conversações, as quais permitem que um conjunto de vozes seja ouvido e um conjunto de interesses passe a ser levados seriamente em consideração em quase todos os lugares. Isto é poder como presença discursiva.O mesmo ocorre no Brasil. Mesmo evitando financiar temas muito polêmicos, as organizações que representam a filantropia empresarial no Brasil procuram atuar de forma a "ganhar os corações e as mentes" das pessoas, em especial dos formadores de opinião. O campo discursivo do "Terceiro Setor", por exemplo, é um espaço propício para isso; não por outro motivo, uma das grandes atividades do GIFE (Grupo de Fundações, Institutos e Empresas) é fomentar e disseminar o conceito e as idéias ligadas ao "Terceiro Setor". Claro que essa disseminação contribui para também disseminar as formações ideológicas que compõem o ethos do campo de poder ao qual estão associadas às empresas e seus dirigentes, como inclusive pude demonstrar ao analisar o discurso do Terceiro Setor na mídia.O presente artigo mostra, por meio de um levantamento junto à mídia impressa entre 1994-2001, como a atuação das empresas e das organizações da chamada "filantropia empresarial" vêm pautando o discurso do Terceiro Setor no Brasil e, conseqüentemente, procurando imprimir uma ideologia anti-Estado às práticas das organizações não-governamentais e instando-as a substituir o Estado no atendimento de demandas sociais.
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Desde o início dos anos 90 vimos assistindo a um verdadeiro boom de ações ligadas ao que se convencionou chamar de "responsabilidade social da empresa" ou "filantropia empresarial". Muitos argumentam que se trata de um conjunto de estratégias de marketing para melhorar a imagem das empresas junto à sociedade. Embora haja de fato um componente mercadológico importante nessa ação, há uma questão maior e de efeitos mais fortes sobre a sociedade como um todo. Trata-se de um movimento que procura garantir às empresas, por meio de seus agentes designados, maior poder para influenciar a formulação de políticas públicas ou na definição das agendas políticas da sociedade.Analisando o perfil da filantropia empresarial norte-americana, Jerome Himmelstein demonstrou que empresas que financiam determinadas causas buscam, mais do que um retorno de imagem, influenciar os debates sobre determinados. Isso explica porque algumas empresas, nos Estados Unidos, financiam campanhas e organizações ligadas a temas polêmicos (tais como o aborto e a legalização do uso da maconha). Himmelstein argumenta que a questão do poder -no caso da filantropia empresarial- não implica uma relação de submissão aberta de um grupo sobre outro, mas, ao invés disso, ela envolve um tipo de poder mais sutil e, talvez, numa escala menor que qualquer outro: uma presença nos múltiplos níveis da sociedade e um lugar nas diversas conversações, as quais permitem que um conjunto de vozes seja ouvido e um conjunto de interesses passe a ser levados seriamente em consideração em quase todos os lugares. Isto é poder como presença discursiva.O mesmo ocorre no Brasil. Mesmo evitando financiar temas muito polêmicos, as organizações que representam a filantropia empresarial no Brasil procuram atuar de forma a "ganhar os corações e as mentes" das pessoas, em especial dos formadores de opinião. O campo discursivo do "Terceiro Setor", por exemplo, é um espaço propício para isso; não por outro motivo, uma das grandes atividades do GIFE (Grupo de Fundações, Institutos e Empresas) é fomentar e disseminar o conceito e as idéias ligadas ao "Terceiro Setor". Claro que essa disseminação contribui para também disseminar as formações ideológicas que compõem o ethos do campo de poder ao qual estão associadas às empresas e seus dirigentes, como inclusive pude demonstrar ao analisar o discurso do Terceiro Setor na mídia.O presente artigo mostra, por meio de um levantamento junto à mídia impressa entre 1994-2001, como a atuação das empresas e das organizações da chamada "filantropia empresarial" vêm pautando o discurso do Terceiro Setor no Brasil e, conseqüentemente, procurando imprimir uma ideologia anti-Estado às práticas das organizações não-governamentais e instando-as a substituir o Estado no atendimento de demandas sociais.

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